terça-feira, 18 de agosto de 2020

Dona Iolanda e o Papagaio


Numa tarde fria de inverno, recebi o telefonema da enfermeira da hemodinâmica solicitando uma vaga. Tratava-se de uma paciente do sexo feminino, 70 anos, POI de Angioplastia com implante de 02 stents. Estava entubada, pois tinha evoluído em PCR durante o procedimento. Sua admissão na UTI foi tranquila, e os dias que seguiram a sua internação também, sendo extubada no quinto PO. Dona Iolanda, chamava-se...e a primeira coisa que balbuciou quando lhe tiramos o tubo foi:
-Onde está meu papagaio?
Isso me causou uma certa curiosidade, pois é sabido que tal ave possui a longevidade semelhante ao ser humano (em média 90 anos) e que são muito sensíveis às relações com seus donos, chegando a morrer de saudade, literalmente.


Levantando a história de dona Iolanda, descobrimos através de um sobrinho que ela morava sozinha com seu papagaio, no qual ela tinha ganho quando criança. Estimavam que a ave tinha em torno dos seus 60 anos e que ambos nunca haviam se separado.
Aquilo causou uma enorme comoção na equipe que foi motivada a marcar o encontro entre os dois, dentro do hospital.


Chamamos coordenação, direção, gerência..... Mobilizamos toda a administração..... e enfim chegamos a um consenso: o louro iria ser convocado a comparecer no hospital quando dona Iolanda recebesse alta da UTI.


Foi um dia mega esperado..... No dia do encontro, levamos dona Iolanda de cadeira de rodas num espaço aberto (parecido com um jardim interno) e lá, dentro de uma gaiolinha no colo do sobrinho, estava o seu tão estimado amigo.... De tão eufórico, o papagaio desandou a gritar e não parava mais..... Dona Iolanda emocionada beijava-o incansavelmente. Fora o barulho que ele fazia, ouvíamos também o soluçar de todos que presenciaram a cena.... Foi um dia pra lá de emocionante.

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